quarta-feira, 10 de julho de 2013

O ADEUS À BOLA

No sofá da família, falta espaço para as camisetas dos clubes que Douglas Rinaldi atuou 
(Foto: Fábio Pelinson/Jornal O Alto Uruguai)

Essa não é mais uma história de um garoto com o sonho de se tornar jogador de futebol, e que diante das dificuldades ficou pelo caminho nesta fábrica de craques chamada Brasil. Esse enredo tem um cenário um pouco mais diversificado. Treze clubes em cinco países, além do Brasil, em 18 anos de carreira.
Douglas de Medeiros Rinaldi, ou apenas Douglas Rinaldi, é “filho ilustre” de Erval Seco. Saiu da cidade ainda garoto, com 16 anos. A oportunidade de ir para Criciúma apareceu depois de um jogo preliminar, antes de um amistoso da equipe do Sul catarinense. Mas o desejo de ser jogador era anterior a tudo isso. “Lembro que desde oito ou nove anos eu já tinha esse pensamento, e já trabalhava para isso”, contou.
Com uma dose de coragem, como ele mesmo define, resolveu ir se “aventurar” em Criciúma. “Convidaram-me para ficar lá, e eu prontamente desisti do terceiro ano no Colégio Agrícola. Para mim foi algo sensacional, indescritível, era algo que eu queria muito”, disse o jogador. Com o apoio dos pais, Rinaldi jogava no Estado vizinho, sonhando subir para o profissional, o que não aconteceu. “Joguei o júnior e não tive oportunidade de subir. Voltei para casa e por um momento eu desisti do futebol”. Porém, o tempo longe dos gramados foi curto. Bastaram 30 minutos atuando em uma peneira, e o destino de Rinaldi foi a cidade de Santo Ângelo. “O Santo Ângelo é um clube muito especial para mim, o time que me abriu as portas profissionalmente”.

Foram cinco anos de muitas conquistas entre as categorias júnior e profissional nas missões, onde o jovem conheceu um empresário. “Através dele apareceu uma oportunidade de ir jogar na Itália, e a gente achou uma boa ideia. Mas lá foi complicado. Era uma época que eu estava muito bem, mas sofri até um pouco de preconceito por ser jogador estrangeiro”. Depois de desistir do contrato com o Trento, em 2002, e voltar para o Brasil, com a dupla cidadania italiana em mãos, ficou mais fácil trilhar um caminho pela Europa, onde no ano seguinte atuou no Mataro, da Espanha. Ainda em sua “carreira europeia”, passou pelo Apollon Kalamaria, da Grécia, em 2004, e o Watford, da Inglaterra, em 2007.

Tempo na Grécia
Douglas Rinaldi disputou na Grécia a primeira divisão do campeonato nacional. Porém, a maior das dificuldades do período não foi dentro dos gramados. “Nesse período minha esposa Daniela já me acompanhava, então a gente vivia mais em um ritmo nosso. Nos treinos, havia brasileiros na comissão técnica, então a comunicação era tranquila, mas a dificuldade maior era fora de campo”, ressaltou o jogador. Por lá, mais do que brigar contra os jogadores adversários, o erval-sequense teve que duelar com a língua. “Era muito complicado até para ir no supermercado, pegar um táxi, tanto que no tempo em que a gente esteve lá, nunca fomos a um restaurante, porque não tinha como se comunicar”, relatou.

O grande ano da carreira

Depois de uma bela passagem pelo Veranópolis, com 28 anos, surgiu a oportunidade de ir para o futebol inglês. “Fiquei uns 15 dias realizando testes, e nesse tempo passaram uns 30 jogadores, atletas conhecidos. Eu fui treinando, até que no último dia da janela de janeiro da Europa, assinei um empréstimo de seis meses”. Após conquistar a confiança do técnico, Rinaldi estreou pelo Watford, na Premier League, contra o Totteham. “O treinador me chamou era 20 do segundo tempo. Entrei bem, fiz uma boa partida, e a partir daí os jogos que eu tive condições físicas eu joguei todos”, relembrou.  
Foram aproximadamente 12 partidas na Premier League. “Com certeza esse primeiro ano na Inglaterra foi o que mais me marcou. Foi onde eu tive a oportunidade de disputar jogos contra os melhores jogadores do mundo, na verdade, atletas que a gente assistia pela televisão, mas que dentro de campo você vê que não são de outro mundo. Eu fiz boas partidas lá, tanto que o time acabou comprando meu passe”, disse Rinaldi.
Além dos grandes jogos, Douglas Rinaldi destaca 2007 como o top de sua carreira, em todos os sentidos. “Quando eu cheguei lá fiquei até um pouco deslumbrado, é muita diferença em estrutura. A torcida era respeitosa, mas muito fanática. Com certeza foi o auge da minha carreira”, contou. O jogo que mais marcou sua vida, também foi nesse ano. “Com certeza a partida contra o Chelsea. Foi minha estreia como titular na Inglaterra, o jogo foi passado ao vivo para todo o Brasil, e foi uma boa partida, me marcou”, afirmou.

A decisão de parar
A idade chegando na casa dos 30 e o nascimento do filho Joaquim foram situações que fizeram Rinaldi começar a pensar em encaminhar a aposentadoria do futebol. “Quando eu fui para o Japão, em 2010, a gente tinha decidido que a minha esposa já não iria mais me acompanhar, até porque o nosso filho, Joaquim, estava com quatro anos. Então já nesse momento eu pensei na hipótese de parar, mas nada efetivamente”, contou o jogador.
Depois do Japão, Rinaldi ainda teve uma passagem pelo Esportivo, em 2011, onde sofreu a pior lesão da sua carreira. Depois de um tempo se recuperando, o destino lhe reservava defender em campo a região onde toda a história começou. No União Frederiquense, o jogador atuou na temporada de 2012 e 2013. “Esses dois anos foram ótimos. Tu ver teus pais, teus amigos, a família acompanhando o dia a dia dos treinos foi muito bom. Eu joguei, vesti a camiseta do União mesmo, como se fosse o time da minha cidade, comprei a causa”, ressaltou.  
Decidido a parar, Rinaldi viajou para Santa Maria, onde o União enfrentaria o Inter-SM pela última rodada do segundo turno da Divisão de Acesso, pensando que não seria seu último jogo. “Eu estava muito confiante que aquele não seria o nosso último jogo, que iríamos classificar. Mas depois, no vestiário, eu pedi a palavra e comuniquei a minha decisão. Foi tranquilo, era uma coisa que já estava bem pensada, não foi precipitado, até o Hyantony brincou comigo: ‘mas todo mundo quando para chora, e tu tá rindo’. Mas é um ciclo que chega ao fim. O União não ter caído foi algo que fez com que eu terminasse minha trajetória do futebol de cabeça erguida. Porque tu acabar com um rebaixamento não seria interessante, e algo que poderia até ter mudado meu pensamento, porque eu não sei se eu ia querer acabar dessa forma”, comentou Rinaldi.
Com essas palavras, no vestiário do estádio Presidente Vargas, Rinaldi dá adeus ao futebol profissional. “Tudo que eu fiz foi bem pensado, sempre dei meu máximo, sempre me esforcei e fui honesto, independente do lugar que eu estive, eu saio de cabeça erguida e muito feliz, porque foi uma carreira muito gloriosa e que me deu muitas alegrias”, finalizou o agora aposentado da bola, Douglas Rinaldi. 


Crédito: Fábio Pelinson/Jornal O Alto Uruguai

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